Euforia em Brasília com decisão do TSE mostra que cassação de Dallagnol é só o começo. Se houvesse um censo para esse tipo de coisa, provavelmente se constataria um recorde de taças tilintando em Brasília logo após a cassação de Deltan Dallagnol. Sem contar as mensagens, ligações e memes entre autoridades se congratulando por extirpar da política o ex-procurador da Lava-Jato de Curitiba.
Em meio à celebração, houve quem disputasse o pioneirismo na luta contra a operação que, segundo seus críticos, “criminalizou a política” e deu asas ao bolsonarismo. Para os mais ambiciosos, cassar Dallagnol foi pouco. "Só comemoro mesmo quando expulsar o Moro", me disse uma parruda autoridade da República. Por mais insaciável que seja o desejo de vingança, porém, o “sistema” não tem do que reclamar. Nesta semana, mais um passo foi dado contra a “criminalização da política”. Foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados a anistia para todas as irregularidades nas prestações de contas dos partidos sobre o uso do fundo eleitoral. Fim do suspense: Lula escolhe para posto-chave da Justiça defensor de hacker da Vaza-Jato
Bastidor: O envelope lacrado do TSE que selou o destino de Deltan Dallagnol.
De compra de toneladas de carne e reforma de piscina a recibo fraudulento de gráfica, passando pela aquisição de carros de luxo e aeronaves, todo “pecado” cometido com o dinheiro público será perdoado caso a emenda constitucional passe no plenário da Câmara. Ficarão liberadas também as legendas que não cumpriram as cotas para candidaturas de mulheres e de negros. Voto pela condenação, o ministro do TSE Benedito Gonçalves sustentou que Dallagnol deveria ser punido por renunciar ao posto no Ministério Público para escapar de Processos Administrativos Disciplinares (PADs). Só que não havia PAD algum em curso quando Dallagnol renunciou. Supremo: Manobras de Fachin e Toffoli preparam terreno para Lula indicar Zanin
Numa entrevista ao Estadão, o professor da Universidade de São Paulo Rafael Mafei — um crítico da Lava-Jato — diz que há “incongruências” na decisão do TSE e reconhece que “talvez, se o personagem fosse outro, o resultado seria diferente”. Ninguém precisa ter simpatia por Dallagnol para entender o que essa constatação significa. Aliás, bem ao contrário. Criticava-se na Lava-Jato, e com razão, justamente aquilo que acontece agora com sinal trocado. Mas a História mostra que, na política brasileira, a lei do retorno costuma valer mais que a da ficha limpa. O mesmo poder que ontem cassou Dallagnol pode, amanhã, acabar com a festa do sistema. E aí ninguém poderá reclamar se não houver quem defenda as garantias que estão indo para o espaço.